A Mercedes perpetua a aposta em conceito não consensual no estilo, mas virtuoso no sentido prático e no espaço do comercialmente fugaz Vaneo (2002-05), modelo que compatibiliza as características de veículo ligeiro comercial do tipo furgão e as de passageiros. A marca da estrela vai mesmo mais longe nas pretensões e duplica fórmula em automóveis idênticos, na plataforma, formato e dimensões da carroçaria, motorizações e quase no design, diferindo somente na qualidade dos acabamentos e na dotação do interior. Ao mais simples Citan Tourer, acrescenta-se estreante, mais rico e aprazível Classe T – e mais custoso.

Desde logo, no habitáculo, o rigor dos materiais e montagem do T é superior ao que se observa no irmão gémeo, mas abaixo do da esmagadora maioria da gama Mercedes-Benz, incluindo os modelos de segmentos inferiores, Classe A e B. Num automóvel como o Classe T, primazia total – reforce-se, total – à conceção do interior, direcionado em pleno para exigências de transporte familiar e/ou de carga volumosa. A dinâmica e as performances são menos do que secundárias, e só o conforto de rolamento é igualmente apreciável. Mas não se espere comodidade que se esperaria a um Mercedes.

Tudo o resto que se refere a habitabilidade e bagageira, incluindo os acessos ao interior, valoriza-se no Classe T. Assim, franqueando as amplas portas dianteiras, com amplo ângulo de abertura (90 graus), acede-se a lugares dianteiros muitíssimo espaçosos. O condutor senta-se em posição típica dos veículos comerciais, com as pernas mais (não demasiado) fletidas, mas ao passageiro permite-se esticá-las... até deixar de tocar com os pés ao fundo.
Há múltiplos locais para pequenos arrumos... e grandes. Nas portas, entre os bancos e junto ao teto a toda a largura, qual comercial. E a qualidade de construção, essa, é bem satisfatória, embora, reforce-se, abaixo dos padrões da Mercedes. Não há plásticos suaves ao tato, exceto para apoios de braços das portas dianteiras e consola central. A instrumentação, simples e bem legível, tem dois mostradores de ponteiro tradicionais e um ecrã ao centro de 5,5’’. Ao centro do tablier não falta monitor do infoentretenimento, mas pequeno (7’’) para os padrões modernos, ainda que dispondo de sistema multimédia MBUX compatível com Android Auto e CarPlay e navegação acessível e intuitiva pelos menus.

Aceder aos lugares posteriores faz-se ainda mais livremente, por portas deslizantes. Contudo, o seu acionamento é manual, não elétrico, nem em opção. Não é bom: do lado de fora, abrem e fecham sem esforço, mas, de dentro, podem trazer dificuldades a crianças ou adultos com mobilidade reduzida. Há três bancos idênticos, amplos e confortáveis o suficiente, o que é elogioso a um carro familiar, mas não deslizarem longitudinalmente e os encostos não reclinarem, já nem tanto. As medidas para acomodar as pernas são desafogadas e a da altura até para... basquetebolistas. Quem, além destes, mede 112 cm do quadril ao topo da cabeça?

Ao interior, resta acedermo-lo pela bagageira. Fazemo-lo por um portão enorme – igualmente típico de comercial –, que se eleva a 2,1 metros de altura e exige uma distância de mais de 1,5 metros de qualquer obstáculo atrás do veículo, logo obrigando a... medir distâncias. Além disso, como as portas laterais de correr, abertura e fecho faz-se à mão e sem possibilidade de automatização. Uma vez aberto o portão, deparasse-nos um compartimento de carga de 520 litros de volumetria. Parece ter muito mais. O piso da bagageira está a 56 cm do solo, facilitando cargas e descargas. E precisando-se de mais espaço, rebatem-se os encostos dos bancos traseiros, bipartidos (60/40), configurando uma superfície plana com 1,8 metros de comprimento. Dá até para dormirmos, à larga.

Não é tudo nesta análise: a dinâmica e a prestações não são depreciáveis, apesar de o Classe T sofrer com as proporções exteriores fora de norma da sua génese de comercial, que contribuem para o centro de gravidade elevado. Mas nem perto de ser um automóvel com uma condução desagradável. O formato, só por si, não compromete o seu comportamento, equilibrado e sempre estável em curva, uma vez que não se observa excessiva brandura às suspensões – a traseira de eixo de torção –, que poderia ser expectável em privilégio do conforto de rolamento, mas sem rigidez que penalize devidamente a filtragem das irregularidades do piso. No fundo, correta sem deslumbrar. De qualquer modo, em cidade – em que o T não deixa de ser prático transportador – olá crianças! – ou em estrada aberta, sugere-se tranquilidade na condução.
De resto, é a essa que puxa as performances do motor Diesel 1.5 de 116 cv, associado a altamente recomendável caixa automática de sete velocidades e dupla embraiagem – também há versão com transmissão manual de seis, embora não falte fôlego à mecânica, sem ser utilizada com moderação, dando conta do recado mesmo com lotação esgotada e/ou muita carga a bordo da viatura. O mesmo para o consumo, assim controlando-o abaixo de regrados 6 l/100 km médios.

Preços entre 33.000 € (s/ IVA) e 41.000 € (c/ IVA) são fator decisivo de ponderação para compra deste Mercedes Classe T, monovolume concebido a partir de comercial, com virtudes (espaço imenso) e defeitos (condução) inerentes a este tipo de veículo, dotado de económico Diesel de 116 cv e eficaz caixa automática... Premium incomum, até no equipamento de série.
Preço:
Mercedes-Benz T 180 d 7G-DCT- Desde 37.929 €