Renault Mégane E-Tech EV60

Não há volta atrás...

TESTE

Por Ricardo Jorge Costa 18-02-2023 07:05

Irreversibilidade é o que Renault reivindica para a decisão de antecipar o futuro 100% eletrificado do automóvel, lançando desde já e em exclusivo na gama a partir de 2024, um modelo tão importante para as suas vendas como o Mégane apenas com motorização elétrica. Excluindo o risco ‘não controlável’ nesta opção, o fabricante cumpriu a sua parte?

Já não há volta atrás», dizia-nos um condutor de um automóvel elétrico (EV), ufano da sua opção de mobilidade, junto a um posto de carregamento, nos vários a que levámos o novo Mégane em mais de mil quilómetros ao volante da quinta e inovadora geração deste popular modelo compacto familiar originário de 1996, quando sucedeu ao Renault 19. A irreversibilidade afirmada por aquele utilizador convencido do mérito da sua escolha é a mesma que a Renault reivindica para a decisão de antecipar o futuro 100% eletrificado do automóvel, lançando desde já e exclusivamente a partir de 2024, um modelo tão importante para as vendas como o Mégane, apenas com motorização elétrica. Decisão, no mínimo arriscada, considerando o atraso da transição energética – e não só em Portugal, nos principais mercados do Mégane -, ainda com a rede de carregamento público a caminho da suficiência e, principalmente, o preço de aquisição elevado dos EV. Disponível a partir de 35.850 €, o Mégane deverá aumentar rápida e exponencialmente a sua clientela a pessoas coletivas (empresa), numa tendência que, todavia, tenderá a generalizar-se a todo o mercado automóvel nos primeiros tempos da eletrificação total.

De qualquer modo, não será por falta de qualidade do seu novo produto que a Renault vê agravado o referido risco. O Mégane E-Tech 100% Elétrico – este é o nome esclarecedor que a marca escolheu para a comercialização do modelo – é um automóvel carregado (literalmente) de virtudes e preponderante no segmento em que se insere, apesar de ainda escasso em concorrência. Não é um automóvel emocionante, mas sem dúvida convincente, pelo rol de qualidades que possui. Desde o design, à construção, da plataforma técnica ao espaço, passando pelos níveis de conforto, dinamismo e performances do motor e a bateria que o alimenta de energia renovável, a eficiência do consumo e a economia inerente.

Construído com recurso à plataforma CMF-EV exclusiva para veículos elétricos, o novo Mégane disponibiliza-se em duas versões de potência e capacidade da bateria, 130 cv e 40 kWh e 220 cv e 60 kWh, respetivamente. Neste primeiro teste em AUTO FOCO, a segunda, no topo da gama, capaz de prestações velozes, de envergonhar muitos desportivos com motor de combustão, e autonomia suficiente para uma utilização quotidiana descontraída e deslocações bem superiores a 200 quilómetros sem recarregamento. Contudo, sempre sem se dispensar o zelo pela economia na condução – que inclui o recurso a diversas tecnologias a bordo que a promovem, numa experiência até algo lúdica.

Já se disse vezes sem conta: conduzir um EV é quase como um térmico moderno. Tal como estes, há programa de modos de condução para uma utilização adequada a cada situação ou condutor. No Mégane, selecionáveis atrás de botão no volante ou no monitor central de grandes dimensões: Eco, Comfort, Sport e Perso (nalizável). Recomenda-se o Eco, por motivos inalienáveis à natureza pro-eficiência do automóvel. Todavia, conte-se com restrições nas prestações, acelerações mais lentas, velocidade limitada a 100 km/h e menos eficácia na climatização. Nada que demore (ou arrelie) numa viagem sem pressas e nos trajetos curtos do dia a dia nem se notam. E assim consegue-se um consumo bem apreciável de 16,1 kW/h, confirmando o valor homologado, e o da autonomia idem, permitindo-se superar 400 km entre paragens. Sem Eco, impossível essa eficiência, e libertando o motor do espartilho da eletrónica ainda menos. Nem aproveitando a extraordinária velocidade de deslocação por inércia que comum a todos EV. Ou, ao invés, a travagem regenerativa, em quatro níveis controláveis em duas patilhas junto ao volante (tipo seletor de caixa automática), que com alguma experiência e astúcia pode, nalgumas situações, substituir o pedal do travão. No modo Sport, performances céleres, ao não estivesse 220 cv e 300 Nm debaixo do pé direito, estes últimos de forma instantânea, à pressão máxima.

O comportamento dinâmico corresponde às prestações do motor. A suspensão gera sensação de firmeza para melhor controlo dos movimentos sobre os eixos em curva e em travagem e a direção tem um tato correto. No entanto, não se exija ao Mégane laivos de desportividade ou conforto de rolamento ímpar, mas um (bom) compromisso. Se a condução for suave, como se apraz num EV, então não há defeito que se lhe aponte.

Na construção, espaço e comodidade a bordo também, embora, à imagem daqueles concorrentes, o Renault dos tempos modernos nivela-se em patamar um pouco inferior. Ou seja, não é exemplar, mas também não destoa. A maioria dos plásticos não é ótima, apesar algumas aplicações em pele sintética para embelezar o tablier e forros das portas. Os bancos também revestidos no mesmo material (versão topo de gama Iconic) são confortáveis, em harmonia com o habitáculo amplo, que acrescenta 21 cm para as pernas dos ocupantes traseiros em relação ao Mégane não-EV. Idêntico elogio à bagageira, que acolhe até 440 litros, volume com requisitos familiares.

Tecnicamente, o novo Mégane é um automóvel elétrico competente alinhado com a vanguarda dos seus pares no segmento. Desta inovadora quinta geração do compacto familiar pode esperar-se desempenho solidário com a eficiência no consumo energético, que é o principal mote dos EV. Mas também performances convincentes consonantes com os 220 cv da versão mais potente e de maior capacidade da bateria. Nesta, moderando-se (bastante) o ímpeto deste motor, percorrem-se cerca de 400 km sem parar.  

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Ficha Técnica

Caracteristicas

RENAULT MÉGANE

E-Tech EV60

Motor
Tipo Elétrico, síncrono sem ímanes
Potência 220 cv (160 kW)
Binário 300 Nm
Bateria Iões de lítio
Capacidade útil 60 kWh
Tempo de carga (0-80%) 75 minutos a 130 kW
Transmissão
Tração Dianteira
Caixa de velocidades Automática de 1 vel.
Chassis
Suspensão F Ind. McPherson
Suspensão T Ind. multibraços
Travões F/T Discos ventilados/Discos
Direção/Diâmetro de viragem Elétrica/10,4 m
Dimensões e Capacidades
Compr./Largura/Altura 4,199/1,770/1,505 m
Distância entre eixos 2,685m
Mala 440-1332 litros
Depósito de combustível -
Pneus F 215/45 R20
Pneus T 215/45 R20
Peso 1711 kg
Relação peso/potência 7,38 kg/cv
Prestações e consumos oficiais
Vel. máxima 160 km/h
Acel. 0-100 km/h 7,4 s
Consumo médio 16,1 kWh/100 km
Autonomia 430
Garantias/Manutenção
Mecânica 3 anos sem limite de km
Pintura/Corrosão 3/12 anos
Bateria -
Imposto de circulação (IUC) 0 €

Medições

RENAULT

Acelerações
0-50 km/h 3,3 s
0-100 / 130 km/h 7,3/11,2 s
0-400 / 0-1000 m 15,3/28,7 s
Recuperações
40-80 km/h (D) 2,8 s
60-100 km/h (D) 3,3 s
80-120 km/h (D) 4,2 s
Travagem
100-0/50-0km/h 39,4/9,8 m
Consumos
Consumo médio 16,5 kWh/100km
Autonomia 400 km

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