O Enyaq tem tudo o que se pode esperar de um moderno crossover da Skoda e (quase) tudo o que se precisa de um modelo 100% elétrico. Além do preço aproximado ao de propostas com motores térmicos (que ficará ainda mais baixo para empresas!), junta-se toda uma validade prática que em esbarra no habitual stresse de autonomia e carregamentos.
Com o Enyaq, a Skoda entra em grande no capítulo da mobilidade 100% elétrica. Partindo da base MEB do Grupo VW, a mesma de onde nascem os VW ID.3 e ID.4 (sendo este o primo mais chegado ao Enyaq), a marca checa apostou no formato crossover de carroçaria para conferir a máxima pluralidade ao ainda algo limitado conceito de automóvel totalmente elétrico.

À originalidade das formas – que chamaram a atenção de quem com o Enyaq se cruzou na estrada – associa-se impressionante aproveitamento do espaço interior face aos pouco mais de 4,6 metros de comprimento total e, acima de tudo, a ampla sensação de largueza experimentada a bordo. A altura da carroçaria ao solo e a de colocação dos bancos e a amplitude de abertura das portas muito facilita o acesso a todos os lugares, sendo que na traseira a facilidade de movimentos e a melhor acomodação é conseguida mediante a ausência de túnel central. A bagageira, com 585 litros, é outro dos fatores que assinam a ligação a um compromisso familiar, incluindo a simplicidade de interação com a chapeleira que se recolhe por toque e desliza sem falhas por calhas laterais, existindo ainda sob o piso espaço para guardar o cabo de carregamento – de série, o Enyaq inclui cabo para wallbox/postos públicos, ficando o doméstico entre os opcionais: sendo o carregamento a 2,3 kW demasiado demorado para um elétrico com bateria de 62 kWh, a marca prefere deixar esse investimento à consideração do cliente. Ainda no que a ligações a tomadas diz respeito, o Enyaq iV 60 vem com carrega- dor embarcado de 50 kW, estando o de 100 kW disponível por 540 €.
Depois, a Skoda mistura (bem) os conceitos de design minimalista do tablier com o forte sentido prático inerente às criações da marca. Atrás do volante, existe apenas um pequeno monitor com os dados essenciais e de consulta rápida para a condução (em opção, head up display de grandes dimensões com função de realidade aumentada), com as restantes funções de bordo centralizadas no enorme monitor central tátil de 13’’, bem colocado no topo da consola central, com o formato do tablier a criar uma zona de apoio à mão/pulso para melhor e mais fiel seleção dos comandos pretendidos. Mais abaixo, existem comandos de acesso direto a alguns menus, mas ainda assim é intrincada e demorada a forma de chegar a algumas funcionalidades, caso da climatização. Os modos de condução, o sistema de navegação e os mais sofisticados sistemas de ajuda ao condutor são opcionais (a preços ajustados).

O Enyaq também surpreende por interessantes pormenores qualitativos, como os revestimentos aveludados das bolsas das portas (evitam que os objetos deslizem), o toque em tecido no tablier ou a elevada robustez e precisão da montagem interior e exterior, a que se juntam os pormenores de sentido prático, como os amplos e diversos locais de arrumo a servir os lugares da frente e pequenas bolsas para telemóvel, atrás; e o habitual espaço para chapéu de chuva na porta do condutor. O Pack Family (380 €) acrescenta cortinas nas janelas laterais, ligações USB e tomada de 230V nos lugares traseiros.
E enquanto elétrico?
Convencendo na plenitude pelo sentido prático, como se combinará o espírito ‘Simply Clever’ da marca com a ligação elétrica? Nesta versão – quanto a nós, a mais interessante da gama na relação preço/autonomia/versatilidade de utilização – o Enyaq faz uso de uma bateria de 62 kWh brutos (58 úteis), alojada sob o piso, que anima motor elétrico de 180 cv colocado no eixo traseiro motriz – o que ajuda a criar espaço livre à frente para que as rodas direcionais proporcionem curto raio de viragem, que muito ajuda o Enyaq a manobrar em espaços apertados.

Motor e ligações ao solo são de extrema suavidade, com uma perceção de quase total ausência de atrito e de ruído, que muito contribui para a serenidade e refinamento dinâmico, que nada fica atrás de modelos ditos premium. A direção tanto é ligeira como ganha a necessária progressividade, num conjunto que não tendo nascido para aspirações dinâmicas, permite que a condução se torne suficientemente fluida em ritmos mais rápidos. E o motor elétrico de 180 cv permite acelerações lestas e boas retomas de velocidade na vida quotidiana (poucas diferenças face ao ID.4 de 204 cv já testado), na companhia de consumos relativamente contidos: não é complicado aferir médias em torno dos 14, com máximos de 20 em autoestrada, com ar condicionado ligado. Mesmo mostrando as motorizações elétricas extrema sensibilidade de consumo face a todos os fatores (seja a velocidade, o vento, a geografia, etc.), o Enyaq iV 60 permite mais de 300 km em viagens a 120-130 km/h, não se negando a percorrer 400 km com uma carga face à utilização do dia-a-dia.

Para a melhor gestão da bateria o Enyaq inclui condução preditiva baseada na leitura da estrada, geografia e limites de velocidade e modos regenerativos comandados nas patilhas do volante. A condução é marcada por uma lide tátil com vista à simplificação dos atos: se é prático sentar ao volante, bastando engrenar a caixa para o veículo começar a andar (não é preciso fazer mais nada!), já algumas das outras funções podem ser demasiado... táteis, com o condutor nem sempre a percecionar a validade dos seus atos.
O Enyaq é dos mais completos veículos elétricos do mercado ao aliar boas capacidades de autonomia (mesmo nesta versão intermédia com bateria de 62 kWh) a interior muito espaçoso e válido para todo o género de utilização, a preços mais aproximados aos de veículos térmicos de características semelhantes. Sem deixar de parte as tentações tecnológicas focadas na digitalização e nas (muitas) ajudas à condução.