A indústria automóvel vive momento de mudança de paradigma, antecipando-se o adeus à produção dos motores de combustão interna dominantes há mais de 100 anos. A imposição de limites cada vez mais restritivos às emissões de gases de escape impõe a transformação que privilegia as tecnologias da eletrificação, o que explica o número crescente de elétricos e híbridos nas nossas estradas. Felizmente, até marcas comprometidas com esse futuro, o caso da BMW, mantêm as mecânicas térmicas na agenda. Na divisão desportiva M, que também não ignora a exigência de otimização da eficiência, reage-se à conjuntura com mais… potência e automóveis excitantes que satisfazem todos os adeptos da condução e das performances! Prova-o este M4 novo com 510 cv.

Mas, antes de acelerarmos, preâmbulo, enquadramento histórico do carro que temos nas mãos! A BMW introduziu o M3 em 1984, originalmente para responder a uma exigência da Federação Internacional do Automóvel (FIA). Então, para homologação de um turismo de competição, impunha-se a produção de um número mínimo de automóveis de estrada (5000). A regra tinha como objetivo acelerar a transferência tecnológica dos carros de pista para os fabricados de série, do quotidiano. E os números confirmam o sucesso da empreitada: os alemães venderam 18.000 exemplares de modelo diferente de tudo o que existia no mercado naquela época, por combinar cinco lugares e bagageira de grande capacidade com motor de 2 litros e 200 cv que permitia arranques de 0 a 100 km/h em 6,7 s e velocidade máxima de 230 km/h... Semelhantes na dinâmica e nas performances, só os desportivos da Porsche!

Ainda durante a 1.ª geração do M3, versões com 220 cv (chamava-se Evolution) e 238 cv (Sport Evolution). Seguiram-se-lhes M3 II (286 cv, 295 cv e 321 cv), M3 III (343 cv e 360 cv), M3 IV (420 cv e 450 cv) e M3 V/M4 I (431 cv, 460 cv e 500 cv). Agora, no M3 VI/M4, logo no início da carreira comercial, à versão básica, que tem somente 450 cv, soma-se a Competition com 510 cv, que mantém a mecânica de 6 cilindros introduzida em 2014, então para substituir um V8 que consumia demasiado.
Na geração nova do M3/M4, a divisão desportiva da BMW tenta regresso ao passado. O original, recorda-se, impressionava tanto pela capacidade da mecânica como pelas competências de chassis que permitia desfrutar quer das emoções da condução desportiva, quer das performances. Tratava-se de automóvel ágil, leve e previsível… Já os sucessores, talvez por serem quase carros de competição, eram bem mais reativos e, por isso, menos acessíveis ao utilizador comum, principalmente a partir do momento em que ganharam eletrónica de assistência à condução.

Imagem entusiasmante
O BMW impressiona(-nos) tanto pela imagem exterior, onde sobressaem os apêndices aerodinâmicos e equipamentos específicos (aileron, difusor, caixas dos retrovisores exteriores e sistema de escape com quatro ponteiras, entre outros itens), como pela apresentação do habitáculo, com os bancos dianteiros em fibra de carbono (3930 €) – retiram 9,6 kg ao peso total do M4 – como cartão de visita. A qualidade do cockpit é excecional, considerando construção, materiais e equipamentos. Já a posição de condução baixa combina com o temperamento superdesportivo de carro com tejadilho em fibra de carbono reforçada com plástico – e, assim, eliminam-se mais gorduras! Grão a grão…

No demais, muita tecnologia à disposição quer do condutor, quer da condução. Existem quatro programas de ação (Comfort, Efficient, Sport, Sport Plus) e admite-se a regulação independente dos funcionamentos do amortecimento da suspensão, da caixa de velocidades, do controlo de estabilidade – 10 níveis de intervenção – ou dos travões. No volante, nos botões M1 e M2, hipótese de acesso instantâneo a duas configurações pré-definidas de todos os sistemas de bordo. Há mais: na consola central, comando novo, o M Mode modifica a atuação das assistências eletrónicas e as informações apresentadas tanto no monitor da instrumentação (10,25’’) como no Head-Up Display, sempre de acordo com as definições de três programas: Road, Sport e Track. Ativando-se o terceiro, apoios desligados, olhos na pista, mãos no volante, ação…! A maioria dos sistemas controla-se, também, no monitor de 12,3’’ do sistema multimédia ou no seletor rotativo do iDrive situado na consola entre os bancos dianteiros.

Condução excitante
A condução do M4 novo é fácil? Não. Os 510 cv transmitidos só às rodas traseiras sugerem-nos abordagem prudente, pelos menos nos primeiros quilómetros ao volante. No entanto, identificados com todas as tecnologias montadas pela M no coupé da BMW, acede-se a um universo de sensações invulgares, devido à potência e rapidez de desportivo incrível. A conclusão antecipa-se: como acontecia no passado, talvez só Porsche (e AMG) tenham máquinas tão divertidas e excitantes!
O arranque do motor faz-se através de botão em vermelho… vibrante. Sim, verdade, a mecânica de 6 cilindros não tem a sonoridade inebriante de um V8, mas compensa-o com uma capacidade de aceleração muito acima da média e reação quase instantânea ao pedal do acelerador. O funcionamento da caixa beneficia-o. O sistema da BMW, de 8 velocidades, é rapidíssimo tanto no modo automático como no programa manual, que ativamos sequencialmente em patilhas no volante.

Os limites do chassis são muito amplos e encontram-se apenas depois de transposta a barreira do bom-senso. 0-100 km/h em 3,9 s e 250 km/h – 290 km/h com o M Driver’s Package associado ao M Race Track Package (neste caso, grão a grão, é a BMW que enche o papo!) – ilustram bem o potencial dinâmico do M4. O coupé é ágil, estável, reativo, velocíssimo… Os melhores desportivos são todos assim! Todavia, utilizando-o no quotidiano, tome-se muita atenção: direção rápida e travões sensíveis tornam difícil conduzi-lo suavemente e a firmeza da suspensão, excessiva até no programa mais brando do amortecimento, penaliza o conforto de rolamento.
A BMW M empenhou-se no desenvolvimento da geração nova de M3/M4. Os alemães não colocaram na estrada automóvel apenas mais potente e veloz. A imagem excitante combina com as competências dinâmicas muito acima da média, as qualidades de mecânica explosiva e todas as tecnologias de ponta à disposição tanto do condutor como da condução. Grande máquina!