Fora do mundo da eletrificação existem soluções mais acessíveis, com mecânicas vivas e qualidades familiares. E nesse universo de preços baixos há propostas para vários gostos: um Yaris Cross ‘atmosférico e manual’ ou um C3 Aircross ‘turbo e automático’?
Ao propor o Yaris Cross com o motor 1.5 VVT-i, a Toyota prova que há vida paralela à eletrificação, tema tão querido à marca nipónica há mais de 20 anos. É alternativa que vai ao encontro de clientes tradicionais, com preferência por mecânicas atmosféricas a gasolina e caixas manuais, e a quem os apoios elétricos poderão fazer alguma... confusão. E além de ser cerca de 2200 € mais barato que o híbrido, é mais potente: 125 cv vs 116 cv do Yaris Cross Hybrid.

Mesmo que gostos não sejam discutíveis, quisemos analisar até que ponto a poupança imediata e o feitio 'old school' deste Yaris Cross se enquadram com soluções técnicas mais em voga. Como as presentes no Citroën C3 Aircross, que recorre a motor 1.2 turbo a gasolina e a caixa automática de 6 velocidades. Em ambos, preços a rondar a 25.000 €.
O Toyota Yaris Cross é automóvel de conceção mais moderna face a um Citroën C3 Aircross lançado originalmente em 2017 e atualizado em 2021. Algo mais sentido em andamento e ao volante do que quando analisamos o espaço e a versatilidade do habitáculo, onde o modelo francês oferece mais 4 centímetros em largura à frente e 9 cm atrás, por culpa do desenho e formato interior (saliente) das portas do Toyota. O Citroën tem superior superfície vidrada que também contribui para melhor sensação de desafogo a bordo, além de que entre as várias personalizações é possível optar por bancos traseiros deslizantes (60/40) e com possibilidade de ajuste individualizado da inclinação das costas.
O reduzido ângulo de abertura das (estreitas) portas traseiras do Toyota prejudica o acesso – à frente, nada há a apontar. As bagageiras a rondar os 400 litros cumprem bem as preces familiares e os estrados amovíveis presentes em ambas permitem organizar o espaço. Também na mala, o Citroën volta a marcar pontos pela amplitude do acesso, altura do plano de carga e por uma chapeleira mais rígida.

A ergonomia do posto de condução começa por desvendar a já referida conceção mais moderna do Yaris Cross, com regulações de grande amplitude e melhor enquadramento entre volante e pedais. No C3 Aircross o condutor senta-se num patamar mais elevado e menos envolvente.
No Toyota, a colocação do sistema multimédia no topo do tablier permite ao condutor uma utilização quase sem retirar os olhos da estrada; mais abaixo ficam os comandos físicos da climatização (manual). Por outro lado, o software do sistema de infoentretenimento do Citroën é mais atrativo e prático de utilizar, além de reunir todas as configurações do veículo – a Toyota endereçou todas as regulações para o computador de bordo, o qual é comandado de forma mais confusa pelos vários botões presentes no volante.
Pelo preço base da versão Shine, o Citroën capricha com a oferta do ar condicionado automático, rebatimento elétrico dos retrovisores, faróis LED, sensores de estacionamento, sistema de navegação e ainda a caixa automática que acompanha esta variante de 130 cv do motor 1.2 Puretech, não sendo de descurar a possibilidade de somar equipamentos extra e vários elementos de personalização, todos a preços relativamente baixos. Algo impossível de fazer no Toyota, que na versão Comfort Plus apenas se destaca pela presença de travão de mão elétrico. A câmara traseira serve de ajuda às manobras de estacionamento, mas não entendemos a ausência de sensores sonoros.

Motores que fazem a diferença
Ambos contam com mecânicas de 3 cilindros, diferenciadas pela conceção (1.5 atmosférico no Toyota e 1.2 turbo no Citroën) e por estarem agregadas a diferentes géneros de transmissão (manual no nipónico e automática no francês). Como é fácil de prever, é no Citroën que se consegue uma utilização mais fluida e descansada pela conjugação desses dois fatores, com o motor a propor mais força nos baixos regimes e por a caixa ir fazendo o trabalho do pé esquerdo e mão direita que é necessário operar no Toyota. O motor 1.2 turbo está sempre pronto para qualquer solicitação mais exigente, mesmo que esta caixa automática de 6 relações não seja tão expedita como a unidade de 8 velocidades presente noutros modelos da Stellantis, caso do Peugeot 2008. Assim, este conjunto mecânico torna-se indicado para quem leva uma vida urbana, com o Citroën a somar uma suspensão macia e tolerante com todo o género de piso para assim melhor envolver o condutor num dia-a-dia mais confortável e descontraído.
Esta versão 1.5 VVT-i do Yaris Cross, sem contar com o apoio elétrico e a caixa automática da variante Hybrid, não atinge o mesmo patamar de conforto na utilização quotidiana. Nada há a apontar ao manuseamento da caixa ou da embraiagem, apenas o trabalho a ter nas engrenagens. O motor atmosférico, suficientemente vivo nos regimes mais utilizados, acaba por exprimir todo o seu vigor nas rotações mais altas, tendo nós aferido interessantes valores nas acelerações. Só que... este motor 1.5 VVT-i pouco tem de refinado, fazendo chegar ao habitáculo do Yaris Cross demasiado ruído em resposta a qualquer pressão no acelerador, sendo o mais incómodo em viagens de autoestrada. Mesmo sem as tecnologias de hibridização que a Toyota tão bem domina– este bloco 1.5 nem inclui sistema start-stop para desligar a mecânica no trânsito das cidades – o certo é que também aqui se pode contar com consumos contidos, com o Yaris Cross a rubricar valores quase sempre abaixo dos 6 l/100 km, incluindo em cidade. Já a unidade 1.2 turbo de 130 cv da Stellantis não é propriamente reconhecida pelo apetite de passarinho, pelo que facilmente o computador de bordo regista valores entre os 7 e os 7,5 l/100 km.

Ainda em matéria de custos e racionalidade, o Toyota volta a ganhar pontos na confiança transmitida pela agora garantia geral de 10 anos ou 200 mil km, embora obrigue a manutenções programadas a todos os 15.000 km. A maior cubicagem do motor está na causa de um valor de IUC mais elevado.
Não obstante o feitio menos expedito do motor atmosférico e da presença da caixa manual, a condução do Yaris Cross é a que mais e melhor liga o condutor à estrada, com o pequeno SUV a exibir grande precisão dos movimentos da carroçaria, bem comandados por uma direção perfeita. Sem nada ter de desconfortável e apresentando o conjunto mais sólido e robusto, o Toyota não atinge o quase pairar do C3 Aircross sobre o alcatrão, situação que se paga com pronunciado adornar da carroçaria em curva e uma evidente filtragem de todas as reações do automóvel francês.
Sendo um dos mais recentes players no segmento dos pequenos SUV, o Toyota Yaris Cross é exemplar na qualidade da condução, fruto de uma estrutura muito sólida e robusta. Já o seu interior poderia não só ser mais amplo, como também um pouco mais engenhoso e prático, além de que falta acolhimento e vivacidade às formas e às cores. O C3 Aircross, embora já algo datado, e paralelamente a oferecer níveis de conforto inigualáveis no segmento, reúne conjunto de soluções mais familiares (equipamento, espaço e mala), motor vivo e preço (ainda) mais baixo.