Hyundai e Kia estão na linha da frente da eletrificação entre os construtores de referência. Vide os Kauai EV e e-Niro, em números que impressionam: 204 cv, mais de 400 km entre recargas da bateria de 64 kWh e 7 segundos de 0 a 100 km/h.
A tecnologia de propulsão sem emissões de gases poluentes descola como alternativa viável aos motores de combustão interna, fruto da aposta dos fabricantes no desenvolvimento, produção e comercialização de automóveis 100% elétricos que constituam opção aos movidos a gasolina ou gasóleo, alinhando-os como modelos totalmente exclusivos ou como versão de gama.

Hyundai Kauai EV e Kia e-Niro são membros desta última ordem, o primeiro revisto e atualizado a meio do ano passado; o segundo acabado de lançar em geração 100% nova (a 2.ª), mantendo muitos dos predicados da antecessora, incluindo o posicionamento no topo da gama. O Niro mais potente é elétrico, equipado com motor de 204 cv alimentado por bateria com 64,8 kWh de capacidade (e 434 kg de peso), arrumada sob o piso do habitáculo, disposição favorável ao desempenho dinâmico do crossover da Kia, por baixar o centro de gravidade e garantir repartição otimizada da massa suspensa pelos eixos.
O novo Niro estreia na Europa a geração 3 da plataforma K, arquitetura técnica que combina leveza e rigidez. Visualmente, o compacto novo não tem só imagem mais moderna do que o antecessor. No frente a frente com o automóvel que substitui, o novo também é maior nas dimensões exteriores: o comprimento progride de 4,355 m para 4,420 m e a distância entre eixos de 2,700 m para 2,720 m. E estes centímetros a mais refletem-se, muito positivamente, na habitabilidade e na capacidade da mala. Comparando-se as duas gerações, 451 litros contra 475 litros na nova (mais compartimento extra de carga sob o capot, em vez do motor térmico). E o piso móvel assegura mais versatilidade, por ter duas posições em altura de fixação da plataforma.

Comparativamente, o Kauai EV não tem só interior mais acanhado, como é também mais limitado na funcionalidade. A volumetria standard da bagageira (com cinco lugares) não vai além dos 332 litros, menos 143 litros do que no rival de ocasião, que também se distancia largamente na medição em comprimento da plataforma de carga: 77 cm contra apenas 66. Passando ao habitáculo, diferenças ainda mais significativas para as pretensões familiares dos dois compactos: há mais 5 cm em largura, medidos à altura dos ombros, no banco traseiro do crossover da Kia, que também oferece mais 12 cm (!) no espaço para as pernas.
Na dinâmica, rápidas acelerações, desempenho despachado e suavidade ímpar durante a condução, quase sempre pautada pelo silêncio. Mas as diferenças entre os dois modelos são também aqui evidentes. Embora tendo aerodinâmica mais favorável, o Kauai perde pontos no isolamento do habitáculo, sentindo-se mais o ruído de rolamento. Nota mais elevada para o e-Niro, mais estável em qualquer tipo de piso e com critérios mais apertados no reforço da insonorização.

A potência dos motores é a mesma (204 cv), mas o compacto da Hyundai tem 395 Nm imediatamente disponíveis (mais 140 Nm do que no Kia!), suplemento energético que explica a vantagem nalgumas acelerações e retomas de velocidade no nosso protocolo de medições, mas que é notado também na maior tendência para sair de frente sob aceleração total. O Kia parece-nos claramente automóvel mais equilibrado entre aquilo que promete e o que efetivamente consegue oferecer. Mais confortável, devido à qualidade de chassis com direção, suspensão e travões mais capazes. Nos dois, boa agilidade em trajetos urbanos, onde o Hyundai mais beneficia da direção de tato leve, com menos consistência informativa, mas ótimo diâmetro de viragem.
Elogios, ainda, para o equipamento de série, completo, incluindo no capítulo das assistências à condução. O e-Niro tem todos os conteúdos e recursos disponíveis nas outras versões, mas acrescenta-lhes o Vehicle-to-Device (V2D) para alimentação de equipamentos externos (potência máxima de 3 kW), dois programas de condução (Normal e Snow), ambos com impacto na recuperação de energia, aumentando-se e diminuindo-se a regeneração em patilhas no volante, e i-Pedal à medida de ambientes urbanos, por desacelerar e parar o Kia.

O e-Niro tem imagem mais expressiva, com a novidade de permitir a personalização dos pilares C, oferecendo uma paleta com 32 combinações cromáticas para a pintura da carroçaria. A apresentação do habitáculo é consistente com a do exterior, com destaque para o painel de bordo claramente inspirado no EV6 e dominado pelo vistoso Dual Display – monitores de 10,25’’ para instrumentação e multimédia, em combinação com o Head-Up Display com 10’’ de área de projeção de informações no para-brisas. A Kia também investiu no aumento da perceção e qualidade do e-Niro, tanto na seleção dos materiais, como na montagem.
O Kia e-Niro está uns furos acima do Kauai EV, que apresenta muitas superfícies plásticas medianas, menos agradáveis à imagem e ao toque. O painel de instrumentos no Hyundai também é totalmente digital em ecrã com 10,25’’ e a possibilidade de variar a decoração dos elementos informativos consoante o modo de condução selecionado (Eco, Normal e Sport, existindo ainda modo Eco+ que obriga a uma pressão mais prolongada no botão na consola central). No topo do tablier, o monitor tátil de 10,25’’ para o sistema de infoentretenimento.

Nos dois modelos, carregador embarcado para 10,5 kW em corrente alternada (menos de 7 horas para uma carga total), aceitando um máximo de 100 kW em contínua (50 minutos para subir dos 0 aos 80%). A gestão eletrónica das baterias de 64 kW destas versões foi aprimorada, permitindo progressos na autonomia anunciada, registos oficiais que, aliás, conseguimos bater no decurso dos nossos testes: no Hyundai obtivemos consumo médio baixíssimo de 13,5 kWh/100 km, a que corresponde o número redondo de 500 km com uma só carga. E também as acelerações por nós aferidas foram melhores do que aquelas homologadas pelas duas marcas.
Mais espaçoso e com mala muito maior, o e-Niro de última geração arranca para este duelo à frente, distanciando-se do Kauai também na imagem e na qualidade do interior, mais robusto e moderno. O Hyundai recupera pontos no cronómetro, por dispor de muito mais binário instantâneo, mas, dinamicamente, o Kia é sempre mais equilibrado. O Kauai leva a palma da economia, mas não faz dele o melhor elétrico...