O Formentor passou de sucesso a fenómeno nos últimos meses, liderando já as vendas da Cupra. É o primeiro modelo exclusivo da marca, não partilhado com a Seat. O Tonale chega em setembro, mas ninguém duvida que será imediatamente e carrega a responsabilidade de fazer a marca dar um salto na rentabilidade. Um, como o outro, têm a mesma missão: entrar na liga dos SUV premium do segmento C, grupo restrito em que o apuramento tem sido vetado a muitos candidatos. Será que estes vão consegui-lo?
Lado a lado, atraem olhares. A agressividade e originalidade do Formentor contrapõe-se a um estilo que junta a tradição à modernidade no Tonale. Diferentes, mas cheios de personalidade. O Tonale com fisionomia de SUV mais convencional e o Formentor mais baixo, mais crossover.
Por dentro, a silhueta mais alta do Tonale traduz-se numa posição dos bancos também mais acima e na Classe 2 nas portagens, se não tiver Via Verde. No Formentor, sente-se a estrada mais perto e o condutor até tem vista para o longo e plano capot, uma raridade nos nossos tempos. Mais importante: o Tonale transporta melhor três passageiros na segunda fila de bancos, porque tem mais espaço para os joelhos e é mais largo do que o Formentor, além de um volumoso túnel no piso que incomoda quem vai sentado no estreito lugar do meio. Na guerra das bagageiras, vitória tangencial do Tonale. A mala do Cupra tem menos 50 litros de volume, mas aproveita bem a largura.

Mais SUV ou mais ‘crossover’?
Ao volante, a diferença de 90 mm na altura exterior fica ainda mais evidente. No Tonale, a posição de condução é a típica de SUV, mais alta e mais direita, mas com bancos confortáveis, com apoios laterais suficientes. O volante tem ângulo certo e regulações amplas. A alavanca da caixa automática é convencional e está onde a mão vai à sua procura... Depois, existem duas enormes patilhas metálicas fixas à coluna de direção com aspeto fabuloso, mas que dificultam o uso das hastes de plástico, que ficam atrás.
No Formentor, o condutor vai mais próximo de uma posição de condução de uma berlina. Os bancos desportivos (opcionais) são ainda melhores que os do Tonale, encaixando o corpo na perfeição e o volante também está melhor colocado, mas o comando da caixa DSG é uma mini-alavanca muito pequena que dificulta as manobras.

Ambos têm painéis de instrumentos digitais, com o do Tonale a fazer animações de abertura e fecho de sessão. No Formentor há várias visualizações que se escolhem em botão no volante. Este Cupra é mais uma vítima do pouco prático ecrã tátil do infotainment que o Grupo VW usa neste segmento. A procura de algumas funções demora tempo e obriga a desviar os olhos da estrada. O monitor tátil do Tonale é mais pequeno, mas mais fácil de perceber. Quanto à qualidade do interior, alguns detalhes decorativos do Tonale chamam a atenção nesta Edizione Speciale de lançamento, mas os materiais empregues são similares aos do Formentor, que tem detalhes em cor de cobre.

Sistema ‘mild hybrid plus’
O Tonale tem sistema MHEV, ‘mild hybrid’ ou híbrido ligeiro que consiste num motor/gerador no lugar do alternador; e um segundo motor elétrico de 20 cv e 135 Nm integrado na caixa de velocidades de dupla embraiagem. Fica assim um degrau acima dos sistemas MHEV convencionais. Isso permite-lhe circular em modo 100% elétrico durante algumas centenas de metros, o que os MHEV não conseguem fazer. Mas só se a bateria estiver carregada, se acelerar com muita suavidade e se for abaixo dos 30 km/h. São muitos ses mas num estacionamento de supermercado ou no para-arranca mais lento, funciona. Apesar de a bateria ter apenas 0,8 kWh de capacidade (está entre os bancos da frente para não roubar capacidade à mala), a regeneração é muito rápida. É frequente ter a bateria acima dos 50%, porque o motor/gerador também a carrega em aceleração, para ter sempre a performance máxima disponível. O sistema dá uma ajuda ao motor 1.5 turbo a gasolina nas recuperações e nem é preciso olhar para o indicador dos fluxos de energia para perceber o contributo elétrico, que se reflete também nos consumos, mais baixos em cidade que os do Formentor: 6,3 contra 7,8 l/100 km.

Motor TSI ‘multimilionário’
O Cupra tem o conhecido motor 1.5 TSI, produzido aos milhões pelo grupo, pois é usado em dezenas de modelos. Aqui, está acoplado à caixa DSG de dupla embraiagem e sete relações, neste caso com patilhas fixas ao volante, mas que são demasiado pequenas. A caixa tem função velejar em vias rápidas, quando se desacelera, e o motor desativa dois cilindros, mas no Formentor ainda não está montada a versão MHEV. O resultado é uma condução suave o suficiente em cidade, mas o som do motor TSI está mais presente. Contudo, o Tonale, sobretudo a frio, tem algumas hesitações da caixa e do motor que não existem no grupo motor/caixa da VW.
Ambos têm suspensão traseira independente, o que não é assim tão comum neste segmento, por isso conseguem níveis de conforto aceitáveis para modelos com atitude desportiva e equipados com jantes de 19”, no Cupra e 20”, no Alfa Romeo. Em cidade, a direção muito leve e direta do Tonale pode ser do agrado de alguns, mas a do Formentor tem um tato mais consistente e o raio de viragem é mais curto, o que facilita nas manobras, mesmo se ambos têm câmaras de marcha-atrás.

Em viagens por autoestrada, o Tonale faz muito pouco daquelas oscilações típicas dos SUV, que estão ausentes do Formentor, pois tem o centro de gravidade mais baixo. O modelo do Grupo VW usa a plataforma MQB, enquanto o Tonale tem uma variante da plataforma mais antiga do Jeep Compass. Ainda não é a EMP2 V3 usada em múltiplos modelos da Stellantis, pois o projeto começou antes da união entre a FCA e a PSA. E isso vê-se no peso, com o Alfa Romeo a chegar aos 1600 kg, enquanto o Formentor fica pelos 1463 kg. O sistema híbrido do Tonale não lhe dá vantagem nos consumos em autoestrada: circulando a 120 km/h, marcaram ambos 7,3 l/100 km.

SUV desportivos?
Tonale e Formentor têm uma vertente desportiva que não se resume ao aspeto e às rodas grandes. No Alfa Romeo, em modo Dynamic, boa impressão da direção, muito direta, apesar de um pouco nervosa, mas que coloca a frente em curva sem subviragem com os pneus Pirelli PZero de largura 235 a fornecerem claro excesso de aderência. A carroçaria tem pouca inclinação lateral em curva, a suspensão mantém tudo sob rigoroso controlo, numa atitude que resulta neutra. Os 130 cv desta versão surgem de forma progressiva, com ligeira preferência pelo limiar das 5000 rpm. Todavia, o motor não entusiasma e as patilhas acabam por não dar ordem a passagens de caixa muito rápidas. A sonoridade podia ser mais melodiosa, tratando-se de um Alfa Romeo.

O Formentor 1.5 TSI DSG tem mais 20 cv que o Tonale e isso nota-se na primeira aceleração a fundo, com o Cupra a ganhar quase um segundo nos 0-100 km/h: 9,1 vs. 10 segundos (medições AUTO_FOCO). É verdade que o sistema híbrido dá uma ajuda ao Tonale nas estradas sinuosas, mas o TSI até tem mais 10 Nm de binário máximo, às mesmas 1500 rpm. No Tonale, as diferenças entre os modos A, N e D são fáceis de perceber, até mais que entre os modos Comfort e Sport do Cupra. Mas a direção do Formentor é mais progressiva, menos brusca. O Cupra tem pneus Goodyear Eagle F1 de medida 245, ainda mais largos que os do Tonale, mas o acerto da suspensão é bem diferente. Se a frente é igualmente resistente à subviragem, a traseira já se deixa provocar mais, aumentando o gozo da condução. Ser mais baixo faz toda a diferença, com menor inclinação em curva e transferências de massas menos amplas em encadeados de curvas, a inécria condiciona menos a condução e a atitude do Formentor é mais ágil e dinâmica.

Teremos que esperar pela versão deste Tonale de 160 cv no mesmo motor 1.5 turbo com sistema MHEV, para confirmar se as posições se invertem na performance e na dinâmica.
Neste primeiro confronto com o seu rival natural, o Alfa Romeo Tonale consegue aproximar-se em muitas áreas, chegando a superar o Cupra Formentor em algumas delas. O resultado final deste duelo de SUV com aspirações desportivas e premium valida o trabalho que a Alfa Romeo fez no seu mais recente modelo, com as ferramentas de que dispunha no início do projeto, antes da integração na Stellantis. Todavia, o Cupra Formentor vence, embora por escassa vantagem, o Alfa Romeo Tonale, porque é um produto baseado em elementos mais do que comprovados dentro do Grupo VW e com os quais a jovem marca desportiva criada no seio da Seat soube fazer um candidato muito forte ao apuramento para a liga dos SUV Premium.