A atual geração do Qashqai mantém a fisionomia da anterior, embora tenha aumentado as dimensões exteriores, algo que se percebe nas cotas interiores e na amplitude que se verifica em todas as direções no habitáculo, quer à frente, quer na 2.ª fila, ao mesmo tempo que a volumetria da bagageira também progrediu 70 litros (total de 504 litros).

Com medidas externas equivalentes – ainda assim um pouco acima das do Nissan – a nova geração do Sportage segue igual tendência, sendo possível apontar ligeira vantagem na distância para as pernas dos passageiros na fila da retaguarda (mais 2 cm até aos encostos da frente) e na área destinada às bagagens (591 litros), sendo esta uma das maiores da categoria. Esses dados da fita métrica são contrariados pela acrescida funcionalidade do modelo da Nissan nalguns detalhes, como por exemplo na abertura automática do portão da mala (de série) e nos acessos largos e desimpedidos à mesma, inclusive com um estrado de carga mais prático.

A perceção da qualidade dos forros e revestimentos do Nissan é ainda superior à da do rival, mesmo que este não desiluda, até porque o SUV pioneiro da classe está melhor do que nunca, sendo ainda favorecido pelo facto de ter mais equipamento (Tekna+), o que faz depois a diferença na avaliação do conforto. De facto, o novo Qashqai também melhorou todos os aspetos ligados à ergonomia, inclusive com posição ao volante mais centrada, tendo a versão a jogo alguns detalhes especiais, como o teto panorâmico (em vidro e cortina automática) e os bancos em pele sintética com ajustes elétricos, amplos, confortáveis e com... massagens incluídas.

No interior do Sportage – versão Drive –, o luxo não é tão grande, apesar de se ter valorizado a facilidade de utilização e a aposta na digitalização, esta última a destacar-se através dos dois monitores de 12,3’’ colocados à frente, lado a lado, o da esquerda para a instrumentação, o da direita como ecrã operativo do infoentretenimento e para a regulação das funções de bordo/veículo. Há ainda um painel secundário para o controlo da climatização, em baixo, com comandos alternados, mudando à vez.

No Nissan acede-se à navegação, ao áudio e às funções multimédia no monitor de 9’’ no topo do tablier, ao mesmo tempo que existe um painel digital de 12,3’’ à frente do condutor com inúmeros menus/gráficos configuráveis. Mais estranho é que não exista qualquer dado relativo à função mild-hybrid (bateria de 12V de iões de lítio) por parte da mecânica 1.3 turbo – esta resultante da parceria Renault-Nissan/Mercedes-Benz. Esse aspeto é peculiar, no mínimo, sem se retirar ilações diretas a partir dos consumos, apesar das médias pouco exageradas. Se o Qashqai obtém valores médios desde 7,5 litros por cada 100 km, o concorrente da Kia não ultrapassa esse patamar na maior parte das situações, sendo mais frugal em certas condições e obtendo registos surpreendentes nas velocidades moderadas (desde 5,4 a 6 litros/100 km, por exemplo).

O rendimento dos propulsores é equivalente, mas, nas principais prestações, o oponente do Qashqai volta a superá-lo, mesmo que as recuperações se equiparem nas últimas relações (em 5.ª e 6.ª), ambos com escalonamento mais longo das caixas de 6 velocidades (ver ficha). Há melhorias simultâneas, claro, ao nível do consumo e das emissões da mecânica 1.3 DIG-T, traduzidas ainda pela maior suavidade nas fases de arranque (ralenti alargado, reinício mais rápido) e na própria acústica de funcionamento, mais baixa do que no caso do bloco 1.6 T-GDI, este sem evitar alguns silvos e certas ressonâncias. Na insonorização, o Qashqai está uns furos acima e garante melhor isolamento a bordo, sendo possível apontar um maior ruído de rolamento por parte do adversário, este com reações mais secas em mau piso.  

Quando se passa à avaliação dinâmica, dever-se-á elogiar a rigidez estrutural de ambos, assim como a estabilidade em curva, apesar dos formatos SUV, embora a condução do Qashqai (nova plataforma CMF-C) transmita maior envolvência, também por culpa da direção com assistência precisa e de resposta consistente. Como já se disse, o ruído de estrada do Qashqai é menos notado (pneus Michelin Primacy 235/45 R20) e o amortecimento mais confortável e suave, embora o Sportage proponha uma suspensão eficaz, optando por pneus mais firmes (Continental EcoContact6 235/55 R18).

Com base técnica decalcada do Sorento (e igual à da do Hyundai Tucson), o Kia é ágil a curvar e a carroçaria nem sequer se inclina excessivamente, algo que, em abono da verdade, também acontece no adversário japonês.

Os dois SUV têm a possibilidade de optarem por três modos de condução (ECO, Normal/Standard e Sport) que interferem no desempenho dinâmico, aumentando a sensibilidade do acelerador, a assistência da direção, assim como o esforço do motor/transmissão, embora essas mudanças sejam graduais, pouco ríspidas. É no Kia que se nota mais a passagem do Normal para Sport, enquanto no adversário essa transição é menos impetuosa e pouco notada. 

Ambos são bastante competentes nas travagens, quase surpreendentes, como se confirma pelos registos perto dos 36 metros, a partir dos 100 km/h até à imobilização total, sem atitudes evasivas ou excessivos mergulhos das frentes. E isso é um grande feito, até porque se tratam de SUV familiares, atingindo resultados que dantes só estavam ao alcance de alguns desportivos. Não é só a ponte para a gasolina que fará sentido, elogiando-se, neste caso, os evidentes progressos para maior segurança ativa.

Tanto num caso como noutro, há várias assistências eletrónicas à condução, embora o Nissan tenha mais ajudas nesse domínio, desde sensores a múltiplas câmaras, incluindo cruise-control adaptativo (ProPilot), que se ativa por tecla específica no volante.

A versão Tekna+ é muito mais cara (8350 €, calculando os descontos; com a gama a começar nos 33.750 €), tendo ainda o Sportage o trunfo da garantia de 7 anos ou 150.000 km.

O desfecho deste confronto é tremendamente equilibrado, sendo difícil ao modelo-pioneiro da categoria distanciar-se do novo Sportage, o qual exibe trunfos bastante fortes, sem sequer se deixar intimidar no que é essencial num modelo deste género (interior, conforto e dinâmica). E o Kia até tem alguns detalhes mais vantajosos, atingindo consumo médio inferior (apesar do oponente ser mild-hybrid) e melhores prestações (acelerações e certas recuperações). Depois, o preço final do Sportage também é mais baixo, mesmo se se compararem os descontos/campanhas, tendo ainda uma garantia geral de 7 anos. Mas o Nissan amealha pontos na funcionalidade, equipamento/conforto, assim como na dinâmica/suspensão, logrando vencer à justa.