A procura de berlinas compactas diminuiu com o aumento da procura de SUV, mas a Opel, com o Astra, e a VW, com o Golf, mantiveram-se sempre no topo do segmento que vale mais vendas de automóveis na Europa. A geração 8 do segundo encontra-se no ativo desde 2019, enquanto o primeiro acaba de ganhar edição nova, a 6.ª nos 30 anos que dura a carreira comercial – substituiu o Kadett em 1992. Nas duas gamas, versões híbridas com sistemas de recarregamento externo das baterias (PHEV). Trata-se de tecnologia relevante, desde logo por promover a introdução (leia-se adaptação!) à condução de forma totalmente elétrica.
O Astra L, designação interna da geração nova do compacto da Opel, baseia-se numa arquitetura técnica (re)conhecida. A compra da marca alemã pela PSA antes da fusão do fabricante francês com a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), o movimento na origem da criação da Stellantis, o megaconsórcio industrial comandado pelo português Carlos Tavares, proporcionou acesso fácil dos alemães a recursos muito mais modernos sem necessidade de investimentos multimilionários. E, assim, sem surpresa, nesta geração nova, berlina com base (re)conhecida, que partilha com o (concorrente) Peugeot 308: a estrutura EMP2 (variante V3).

O Astra novo, como o antecessor, fabrica-se no quartel-general da Opel, na cidade de Rüsselsheim, na Alemanha, independentemente do contar com plataforma de origem francesa. Na mesma fábrica nos subúrbios de Frankfurt, a marca do relâmpago, sobre a mesma base, faz o compacto 4 para a DS Automobiles... A sinergia de capacidades e competências explica o sucesso da Stellantis. De regresso ao L, no frente a frente com o modelo que substitui, ganha mais centímetros em comprimento do que em largura. E as dimensões exteriores refletem-se na habitabilidade, que não progrediu de forma significativa – nem era previsível que isso acontecesse! Ainda assim, automóvel novo, neste item, quase no topo da categoria, ao lado do... VW Golf.
Os rivais alemães aproximam-se muito na liberdade de movimentos nos interiores. Se o Astra é maior na largura tanto à frente como atrás, o Golf vence-o na altura, mas fá-lo de forma quase irrelevante... No espaço livre para as pernas, nos bancos dianteiros ou nos traseiros, idem, aspas. Mais milímetro, menos milímetro, Opel igual ao VW. Já nas capacidades das bagageiras, diferenças importantes. Nos dois carros, capacidades das malas penalizadas por elementos dos sistemas PHEV, mas esse impacto é maior no Golf do que no Astra: no VW, 272 a 1913 litros; no Opel, 352 a 1268 litros.

O Astra tem apresentação moderna e sofisticada, por beneficiar de mudança no design que privilegiou rutura com o passado… No entanto, no habitáculo, este tempo novo na Opel, sem renunciar a tendência da moda no automóvel (digitalização), faz-se de modo (muito) mais simples do que na Peugeot, com o Pure Panel do compacto alemão a não partilhar (quase) nada com o i-Cockpit do gémeo Peugeot 308. O volante, por exemplo, tem dimensões normais, os monitores da instrumentação e do sistema multimédia, os dois digitais e com 10’’, estão posicionados horizontalmente e lado a lado e a marca do relâmpago, nas versões mais bem equipadas do modelo, até propõe o Head-Up Display indisponível no concorrente da marca francesa.
A Opel, na construção do interior do Astra novo, também investiu q.b. na promoção da qualidade dos materiais e da montagem, otimizou a ergonomia – também ao contrário do que acontece no 308, os comandos da climatização estão no painel de bordo e não num submenu do sistema multimédia – e privilegiou o equipamento, abundante tanto nos itens de conforto como de segurança ativa e passiva. O Golf não é muito diferente, embora o rigor e a solidez da montagem do compacto da VW mereçam mais pontos do que a facilidade de utilização, devido à exigência de período de habituação ao controlo de vários comandos.

Tecnologia debaixo de olho
Astra e Golf, neste confronto, apresentam-se equipados com sistemas híbridos Plug-In que as autoridades europeias têm debaixo de olho, pois os números homologados por todos os fabricantes para os consumos de combustível e os gases de escape são muito inferiores aos registados na condução do quotidiano. E os culpados são os condutores, que não respeitam a necessidade de recarregarem as baterias de forma (muito…) regular, a condição para percorrerem muitos mais quilómetros apenas com a máquina elétrica. E a revisão da norma, potencialmente, originará mudança de protocolo de homologação que colocará esta tecnologia fora de jogo.
Mas, mais presente, menos futuro... No Astra, como no 308 e noutros Peugeot, motor 1.6 turbo a gasolina, máquina elétrica, bateria com 12,4 kWh de capacidade e caixa de 8 velocidades com modo manual controlado sequencialmente em patilhas no volante. O sistema admite diversos modos de condução e, de acordo com a marca de Wolfsburg, elegendo-se o mais eficiente, até 62 km de ação com a mecânica térmica parada e sem emissões de gases de escape. Na prática, conduzindo-se de forma despreocupada, mas evitando-se acelerações repentinas, percorremos 58 km e cumprimos os primeiros 100 km com 2,0 litros de combustível... Depois, sem ativarmos o programa que faz com que a mecânica de combustão interna trabalhe como gerador para alimentar o acumulador de energia, o consumo não excedeu os 6,4 litros. Um registo mais do que razoável.

Obviamente, no programa mais desportivo, convocando-se os 180 cv do sistema PHEV, este sistema permite condução muito veloz, com a resposta lesta do pacote híbrido ao acelerador na origem de performances muito atrativas, como observamos na tabela de medições (ver ficha técnica). E o desempenho do VW Golf não é diferente, pelo menos de forma significativa… No rival número 1 do Astra novo, 1.4 turbo a gasolina, máquina elétrica, bateria com 13 kWh de capacidade e caixa de 6 velocidades.
O sistema do Golf, mais potente (204 cv contra 180 cv), também tem vários programas de funcionamento. A autonomia anunciada para o elétrico é de 72 km, mas é-nos mais difícil aproximarmo-nos dos números reivindicados para o VW do que os homologados para o Opel. Mesmo assim, 52 km com a mecânica térmica, 2,7 litros nos primeiros 100 km e consumo médio de 6,2 l/100 km até esgotarmos o depósito de combustível e recarregarmos a bateria.

Os dois sistemas funcionam bem, sem hesitações, facto que ilustra o estado da arte no capítulo da eletrificação do automóvel. Também dinamicamente, Astra e Golf entre os melhores compactos da atualidade. Nos dois, suspensões com amortecimentos firmes que não perturbam demasiado o conforto de rolamento, por manterem capacidade de absorção das irregularidades do piso. Complementarmente, direções precisas, travões à medida, reações sempre ágeis e seguras, dois chassis de qualidade! A3 e Série 1 têm tatos mais desportivos, é verdade, mas não há (muito) melhor entre os automóveis compactos.
A Opel, com o lançamento de geração nova do Astra, a primeira sob o comando da Stellantis, o que explica a partilha de muitos recursos técnicos e tecnológicos com gémeo que é concorrente, o Peugeot 308, incluindo a arquitetura técnica e o sistema PHEV, reposiciona-se no topo do segmento dos compactos, que continua a valer muitas vendas na Europa. O confronto direto com o Golf é-lhe desfavorável, mas por margem reduzidíssima. Durante a pandemia, a VW atualizou a política comercial e aumentou (ainda mais) o potencial de atração do seu best-seller.