No portefólio da Skoda, a fórmula de racionalidade do Octavia é um fenómeno de popularidade, o grande SUV Kodiaq continua a convencer os adeptos do formato da moda, enquanto o Enyaq iV conquistou merecidamente o estatuto de referência na categoria dos elétricos, mas para a marca checa não há muitos carros tão importantes como o Fabia.
De acordo com os representantes do construtor em Portugal, um em cada quatro automóveis vendidos no país é do segmento utilitário, o que explica o forte investimento na categoria.

O Skoda Fabia da quarta geração assenta na moderna plataforma MQB A0 do grupo VW, obviamente adaptada às características e exigências do modelo checo. Como vantagens mais relevantes, partilha de muitos componentes (eixos, motores, eletrónica, etc.), aumento de sinergias que diminui os custos de produção, condição para maior rentabilidade/mais lucros, e redução significativa do peso – entre as consequências positivas, menos consumos de combustível e emissões de gases de escape sem penalização das performances e do prazer da condução.
Outra consequência da adoção de arquitetura moderna foi a possibilidade de a equipa de designers poder repensar as proporções do modelo. Face ao antecessor, o Fabia IV ganhou 11 cm no comprimento, mais 4,8 cm na largura e menos 7 mm na altura, com o tejadilho mais plano, o que empresta imagem mais dinâmica ao segmento B. Enquanto a distância entre eixos foi esticada em 9,4 cm, permitindo progressos também em habitabilidade.

O estatuto de referência reconhecido ao Fabia é, acima das demais qualidades do utilitário da Skoda, atribuído pela superior qualidade de montagem do interior, em que combina materiais na média do seu segmento, mas mais pelo mérito da engenharia na rentabilização do espaço a bordo, transformando cotas exteriores relativamente compactas em volumetria útil.
No confronto de dimensões da carroçaria com o Fiesta, para medidas praticamente idênticas no comprimento (+ 68 mm), o Fabia é significativamente mais espaçoso – 10 cm mais largo na medição em largura atrás e 5 cm mais alto. O utilitário da oval azul só na distância ao nível das pernas dos passageiros do banco posterior consegue equilibrar a contenta (66 cm contra 68 cm no Skoda). Bom aproveitamento de espaço ainda no Fabia reverte-se em volumetria para a bagageira, ultrapassando a do Fiesta: quase mais 80 litros na configuração normal e cerca de 100 litros na capacidade máxima, com bancos rebatidos!

Ainda no interior do Fabia, cinco soluções Simply Clever em estreia: um novo clip para um cartão de crédito ou bilhete de estacionamento e um elástico como porta-canetas mantêm tudo arrumado no compartimento de armazenamento da consola central; um porta-copos removível entre os bancos dianteiros, em opção, oferece ao condutor e ao passageiro dianteiro mais flexibilidade e uma caixa no túnel de transmissão para o armazenamento de pequenos itens.
O Ford exibe igual predominância de plásticos rígidos no habitáculo, mas a montagem, mais correta, não parece que promoverá ruídos parasitas com o envelhecimento. Imagem de robustez confirmada em estrada.
O Fiesta começa por ser mais confortável logo pelo nível sonoro, com um 3 cilindros mais silencioso que aquele que equipa o Fabia. Mas as regras do jogo mudam quando falamos de conforto de rolamento, atribuído pela afinação do amortecimento. O Skoda é mais brando que o mais firme – não demasiado – concorrente da marca da oval azul.
Mas há mais pontos a favor da geração atual do Ford Fiesta, como por exemplo, a ergonomia. O utilitário da Ford tem todos os comandos relativos à condução bem distribuídos e perdeu (e ainda bem) inúmeros botões no habitáculo que tornavam confusa a utilização de diversos sistemas. No equipamento, o Fiesta destaca-se por dispor, de série, navegação operada no ecrã tátil de 8 polegadas, ao centro do tablier, a chave inteligente (arranque no botão Power), a câmara de marcha-atrás com aviso acústico e as luzes automáticas de máximos. Nos itens de segurança, sublinhe-se o custo pouco elevado de vários opcionais no carro da oval azul, caso do pack Drive Plus que, por 305 €, integra deteção de ângulo morto, aviso de saída de faixa, cruise control adaptativo, reconhecimento dos sinais de trânsito e alerta ao condutor, elementos pouco usuais no segmento.

No Fabia, a denominação First Edition pode sugerir a presença de uma versão mais recheada em termos de equipamento, mas a marca checa foi obrigada a racionar conteúdos, condicionalismos de uma crise de fornecimento de peças e semicondutores para automóveis sem fim à vista. Assim, a versão especial de lançamento do Fabia da quarta geração em Portugal inclui jantes de 17 polegadas, o tejadilho panorâmico, faróis Bi-LED e o cockpit digital, com a instrumentação em ecrã de 10,25 polegadas que oferece cinco opções diferentes de exibição e painel tátil ao centro para o sistema multimédia, que já permite espelhar o conteúdo do telefone e a possibilidade de integração com os sistemas Apple CarPlay e Android Auto.
No plano das ajudas à condução, o utilitário checo cumpre com a oferta de série dos sistemas Front Assist, Driver Alerta (alerta de fadiga) e Lane Assist (para manutenção na faixa de rodagem). Contudo, ficam de fora da lista opcionais como os sensores de estacionamento (315 €), o ar condicionado automático (350 €) ou os simples vidros traseiros elétricos (ainda... à manivela!) e os retrovisores retráteis, que o Ford inclui sem custos adicionais.

Sob o capot do Ford, trunfo tecnológico no motor 1.0 EcoBoost de três cilindros, turbo, aqui na derivação de 125 cv com funcionamento mild hybrid (que consiste num motor de arranque/gerador acionado por correia que substitui o alternador e permite que a energia elétrica gerada seja armazenada numa bateria adicional de 48 volts), pouco percetível, mas que lhe permite obter consumos equilibrados e prestações mais convincentes.
Não se devem pedir-lhe recuperações desportivas do irmão ST, porque 210 Nm não é energia abundante, mas com a adequação do regime de funcionamento ótimo do motor, recorrendo-se à transmissão manual, corretamente escalonada, a condução deste ST-Line pode ser bem divertida.

A direção tem tato preciso e a suspensão (rebaixada em 10 mm) revela firmeza ajustada a esse comportamento r rmais aguerrido, com jantes em liga leve de 17 polegadas, apesar do ruído de rolamento que se pode observar nos asfaltos irregulares.
Globalmente, pode dizer-se que o utilitário da Skoda celebra melhor compromisso, não sendo mais eficaz em curva (mais dinâmico e ágil), também não compromete em nenhum momento da condução e é mais confortável em qualquer tipo de piso. Para ajudar à boa dinâmica do Fabia alia-se a competência dos travões e o trabalho da direção, que tem a vantagem de conjugar leveza e acerto.

Excelente, ainda, a disponibilidade do motor TSI, nesta variante de 110 cv. (a mais potente do 3 cilindros a gasolina no Skoda). São raras as situações em que sentimos necessidade de recorrer à boa caixa manual de 6 velocidades para apurar regimes de funcionamento do 3 cilindros turbo, pois com facilidade rodamos a velocidades de cruzeiro elevadas. E também com celeridade e segurança conseguimos realizar uma ultrapassagem. Em ambiente urbano, elogie-se a resposta expedita acima das 1500 rpm, ganhando maior pujança logo antes das 2000 rpm.
Depois, no que é um dos itens mais valorizados em automóveis deste segmento, a economia, o Fabia cumpre, ainda que seja o Fiesta a levar a palma por consumir menos combustível – registámos, em média, poupança de 0,5 l/100 km no mesmo percurso, e ambos na casa dos 5 l/100 km, valor comedido e aceitável para motores a gasolina deste nível de cilindrada e potência em veículos deste gabarito.

O utilitário da marca checa ganha vantagem por ter o preço mais baixo – cerca de 2000 euros, o que é dinheiro nesta classe.
O Fabia não é automóvel para quem valoriza o arrojo do design vincadamente desportivo ou futurista, mas a fórmula de sobriedade e o rigor de construção e acabamento mantêm o nível elevado que é habitual nos produtos da casa checa, recorrendo a materiais que não desiludem, desenho simples e arrumadinho. Na nova geração (4.ª), a Skoda colocou-o, por fim, sobre base rolante mais moderna, a plataforma MQB A0 do Grupo VW, a permitir outra qualidade de rolamento. Além de habitabilidade acima da média. Virtudes que o fazem sobressair entre rivais tão competentes quanto o Ford Fiesta, uma referência da classe, melhor no capítulo da dinâmica, sendo também automóvel mais equipado e… caro.