DS7 Crossback E-Tense 4x4 vs Range Rover Evoque P300e PHEV

Fora da bolha alemã

CONFRONTO

Por Paulo Sérgio Cardoso 02-04-2022 07:00

Fotos: Gonçalo Martins

Requintados, confortáveis e sofisticados SUV premium de tecnologia PHEV, enquadrados com a fiscalidade nacional e que não dispensam sistemas de tração integral para uma total liberdade de movimentos. Diferentes da ‘paisagem germânica’ tão em voga, ainda acrescentam desempenho quase desportivo com os cerca de 300 cv de potência máxima.

Há vida além da bolha premium das marcas alemãs! Mesmo falando-se em tecnologia de propulsão híbrida Plug-In, DS e Land Rover têm já uma palavra a dizer, associando os méritos da hibridização a modernos e requintados SUV de imagem distinta, igualmente repletos de tecnologia e sofisticação que contribuem não só para a elevação da qualidade da condução, como para a criação de interiores de assinatura vanguardista.

O Evoque P300e é o mais recente elemento deste ainda restrito clube SUV premium PHEV, apresentando-se ao serviço associando motor elétrico de 109 cv no eixo traseiro alimentado por uma bateria de 15 kWh, a motor 3 cilindros turbo a gasolina, com expressivos 204 cv a partir de apenas 1,5 litros. No total, são 309 cv, tração integral e autonomia elétrica anunciada para 66 km. O já mais conhecido DS 7 Crossback E-Tense 4x4 combina motor 1.6 turbo a gasolina de 200 cv a dois motores elétricos (um por eixo), para um total de 300 cv. A_bateria de 13,2 kWh permite anúncio de 58 km em modo zero emissões. Ambos estão servidos por caixas automáticas de 8 velocidades.

As realidades práticas

Há vantagens e desvantagens a assinalar a cada um dos sistemas PHEV. A par da bateria de maior capacidade (valores brutos), o Evoque aceita carregamento rápido em corrente contínua até 32 kW, bastando 30 minutos para recuperar 80% da carga. No DS 7 o carregador de bordo admite apenas corrente alternada até um máximo de 7,4 kW (e em opção), mas depois permite ao condutor não só preservar um predefinido nível de carga, como ainda forçar a regeneração através do motor térmico, ao passo que o sistema do Evoque permite apenas preservar a carga da bateria a partir do momento em que a função ‘Poupar’ é acionada.

No Land Rover, além do referido modo ‘Poupar’, existem apenas as funções EV (para forçar a propulsão elétrica) e Híbrido (entregando a gestão à eletrónica) e só colocando a caixa em modo ‘S’ se consegue uma condução mais viva, de motor mais reativo. Mantendo intactas as capacidades para todo o terreno, o Evoque P300e não dispensa atributos técnicos que permitam ao condutor selecionar o tipo de superfície a encarar (caso de areia ou lama) para uma adequação de todo o conjunto motor/caixa à melhor progressão e motricidade. Estão ainda disponíveis câmaras exteriores que projetam no monitor do sistema multimédia a posição milimétrica das rodas dianteiras, somando-se outras informações precisas sobre os níveis de inclinação da carroçaria, ângulos de viragem, etc.

Nitidamente mais focado numa utilização quotidiana e estradista, o DS 7 Crossback E-Tense 4x4 acrescenta os perfis Conforto (como inclui sistema de amortecimento variável de série, esta função torna a suspensão ainda mais macia e flutuante face ao modo de condução Hybrid), Desporto e 4WD. Nos dois modelos, a tração integral é conseguida sem ligação física dos dois eixos, uma vez que a tração posterior está sempre a cargo do motor elétrico.

Arrancando e fazendo apenas uso do modo elétrico, o Evoque consegue estender a autonomia real até perto dos 50 km, ao passo que o DS 7 dificilmente passará dos 42 km – testes efetuados em condições mistas de utilização e não apenas em circuitos citadinos. Só o modelo francês permite saber o gasto médio em kWh/100 km em cada percurso. Com os motores térmicos já em ação, a pequena unidade tricilíndrica da Land Rover surpreende positivamente face à suavidade e ausência de vibrações, mas tem como principal pecha o consumo mais alto, principalmente em autoestrada. Por isso, não será de estranhar que o Evoque consiga os consumos mais contidos nos primeiros 100 km com bateria carregada (face à maior autonomia em modo elétrico, o motor térmico permanece mais tempo desligado), com os valores a subir de forma mais considerável numa utilização em estilo híbrido (sem carga na bateria), em que a superior autonomia fica apenas a cargo da maior capacidade do depósito de combustível. Ou seja, tal como acontece em todos os PHEV, mas em particular nestes mais pesados SUV com potentes motores térmicos, as mais-valias da tecnologia em matéria de gastos na utilização só se farão sentir se a bateria for carregada sempre que possível e com foco de utilização urbano.  Caso contrário, as médias podem atingir os 10 l/100 km...

Com potências máximas combinadas na ordem dos 300 cv, estes dois SUV têm audácias de desportivo! Mas será que seriam mesmo necessárias tamanhas potências quando a tendência da maioria dos utilizadores (conscientes!) de PHEV tende a aproveitar as valias elétricas e/ou baixos consumos? Ou serão os 300 cv apenas um dos suportes do estatuto premium? O certo é que as performances puras surpreendem, podendo ser melhor aproveitadas no DS 7 por uma conjuntura mais dinâmica, da direção à suspensão, que ganham consistências no modo Desportivo, incluindo amortecimento mais firme e controlado. O Evoque é sempre dinamicamente mais vago: muito confortável e plenamente sólido e competente quer no dia-a-dia em ritmos normais, quer na estabilidade em autoestrada, deixa depois vir ao cimo toda a sua conjuntura intimamente ligada ao todo o terreno, com carroçaria mais bamboleante e direção de reações lentas. A escolha de pneus (Pirelli Scorpion Zero) contribui, também, para uma travagem mais alongada, mas não deixa de ser curioso verificar que o Evoque tem o pedal de travão mais consistente para híbrido – o sistema regenerativo do DS culmina numa travagem mais sensível.

Interiores sofisticados

Distintos são, igualmente, os ambientes interiores, mesmo que os dois modelos apostem em diversos elementos que espelhem o investimento em sofisticação. Com o acabamento Performance Line, os revestimentos em Alcantara do DS 7 enriquecem a experiência sensorial e a sensação de qualidade (atente-se no toque aveludado nas bolsas das portas), complementada pelos motes digitais da multimédia e instrumentação. Depois, são muitos os pormenores (mas é preciso gostar de losangos, forma que surge em quase todos os botões e grafismos!) e vastíssima a lista de equipamentos, não obstante a interligação ergonómica nem sempre ser a mais intuitiva. A bagageira é maior e larga (portão elétrico dá uma ajuda) e a ausência de túnel no chão, atrás, ajuda ao bem-estar do passageiro central.

O Evoque surge, assim, visualmente menos requintado, mas não menos qualitativamente válido. A reduzida superfície vidrada afeta a luminosidade interior, não deixando transparecer cotas habitáveis que estão quase ao nível do DS 7 – já o acesso é mais dificultado pela superior altura da carroçaria ao solo. A política de personalização da marca faz com que alguns dos elementos digitais, caso do atraente monitor tátil inferior na zona da consola central e do painel de instrumentos, obriguem a investimentos. Complicada pode também ser a interação com toda esta tecnologia, com navegação pouco intuitiva entre as funcionalidades do computador de bordo e das várias definições possíveis. Partindo de preços base semelhantes, o DS 7 Crossback Performance Line oferece conjunto mais atrativo, requintado e sensorial dentro da esfera dos SUV premium PHEV, contribuindo para uma experiência de condução serena e confortável. Com fortíssima imagem de marca, a Land Rover tem no Evoque P300e um novo cavalo de batalha que encaixa na fiscalidade nacional, com superior autonomia elétrica face ao modelo francês, somando (mais) qualidades e versatilidade de utilização fora de estrada.

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Ficha Técnica

Características

DS 7 Crossback

E-Tense 4x4

LAND ROVER RANGE ROVER

Evoque P300e PHEV

Motor térmico
Arquitetura 4 cilindros em linha 3 cilindros em linha
Capacidade 1598 cc 1498 cc
Alimentação Injeção direta, Turbo, Intercooler Injeção direta, Turbo, Intercooler
Distribuição 2 a.c.c./16v 2 a.c.c./12v
Potência 200 cv/6000 rpm 204 cv/5500 rpm
Binário 300 Nm/3000 rpm -
Motor elétrico
Tipo - -
Potência 110 cv (F)+113 cv (T) 109 cv (T)
Binário 320 Nm (F)+166 Nm (T) 300 Nm
Bateria Iões de lítio/58 km Iões de lítio/66 km
Capacidade da bateria 13,2 kWh 15 kWh
Módulo Híbrido
Potência 300 cv 309
Binário 520 Nm 540
Transmissão
Tração Integral permanente Integral permanente
Caixa de velocidades Automática de 8 vel. Automática de 8 vel.
Chassis
Suspensão F Ind. McPherson Ind. McPherson
Suspensão T Ind. triângulos duplos Eixo multibraços
Travões F/T Discos ventilados/Discos Discos ventilados/Discos
Direção/Diâmetro de viragem Elétrica/10,5 m Elétrica/11,6 m
Dimensões e Capacidades
Compr./Largura/Altura 4,570/1,895/1,620 m 4,371/1,996/1,649 m
Distância entre eixos 2,738 m 2,681 m
Mala 555-1752 litros 472-1156 litros
Depósito de combustível 43 litros 57 litros
Pneus F 235/55 R19 235/50 R20
Pneus T 235/55 R19 235/50 R20
Peso 1900 kg 2157 kg
Relação peso/potência 6,3 kg/cv 7 kg/cv
Prestações e consumos oficiais
Vel. máxima 235 km/h 213 km/h
Acel. 0-100 km/h 5,9 s 6,4 s
Consumo médio 1,3 l/100 km 2 l/100 km
Emissões de CO2 30 g/km 44 g/km
Garantias/Manutenção
Mecânica 2 anos sem limite de km 3 anos/100.000 km
Pintura/Corrosão 3/12 anos 3/12 anos
Intervalos entre revisões 30000 km 20000 km
Imposto de circulação (IUC) 137,14 € 137,14 €

Medições

DS

Acelerações
0-50 km/h 2,2 s
0-100 / 130 km/h 5,5/8,3 s
0-400 / 0-1000 m 13,7/25,5 s
Recuperações
40-80 km/h (D) 2,4 s
60-100 km/h (D) 3,0 s
80-120 km/h (D) 3,5 s
Travagem
100-0/50-0km/h 36,5/9,4 m
Consumos
Consumo médio 5,2 l/100km
Autonomia 560 km

Medições

LAND ROVER

Acelerações
0-50 km/h 2,8 s
0-100 / 130 km/h 6,8/10,6 s
0-400 / 0-1000 m 15,1/28,4 s
Recuperações
40-80 km/h (D) 3,0 s
60-100 km/h (D) 3,7 s
80-120 km/h (D) 4,3 s
Travagem
100-0/50-0km/h 41,4/10,5 m
Consumos
Consumo médio 5 l/100km
Autonomia 720 km