O Kamiq, 3.º elemento da gama de SUV da Skoda, chega com a ambição de marcar a diferença na mina de ouro que é o segmento B destes modelos. O carro checo apresenta-se como meio-termo entre ‘crossover’ e carrinha. Como se posicionará perante o Kia Stonic, proposta forte da categoria?
Tanto a Kia quanto a Skoda têm crescido nos últimos anos, em diversos aspetos. Desde logo, nas vendas a nível mundial, o que realmente conta quando falamos de crescimento. Esse progresso é reflexo do aumento de qualidade dos produtos, que tem vindo a derrubar barreiras (entenda-se preconceitos) que existiam (e talvez ainda perdurem) no mercado europeu em relação aos construtores sul-coreanos (no caso a Kia) e do Leste do Velho Continente (Skoda).

Os dois automóveis que aqui confrontamos, Stonic e Kamiq, são dois bons exemplos do bom trabalho que têm vindo a realizar Kia e Skoda, respetivamente. É o último o mais recente, pelo que por aí começaremos a nossa análise.
O nome Kamiq tem origem no dialeto do povo esquimó Inuit, que vive no norte do Canadá e na Gronelândia, e descreve algo que se encaixa na perfeição, como uma segunda pele, em todas as situações. Este novo SUV da Skoda é fabricado na mesma base do VW T-Cross e do Seat Arona, destacando-se, contudo, dos irmãos por apresentar carroçaria mais ao género de carrinha, o que lhe pode ser um trunfo de cativação adicional dos (poucos) consumidores que não embarcaram na moda SUV.
Com 4,24 metros de comprimento, 1,793 metros de largura, 1,553 metros de altura e 2,651 metros de distância entre eixos (distância ao solo de 188 mm), o novo Skoda oferece habitabilidade muito satisfatória, acolhendo três pessoas em boas condições de conforto no banco traseiro, ainda que, como é habitual, o lugar do meio seja menos cómodo pela estrutura do assento e do encosto, e também devido à proeminência do túnel da transmissão, que dificulta a arrumação dos pés do ocupante.

Nos habitáculos de Kamiq e Stonic, as cotas são idênticas na largura, mas há uma diferença substancial, de 5 centímetros, a favor do Skoda no comprimento para pernas nos lugares traseiros, o que pode fazer a diferença para os passageiros mais altos. À frente, não encontrámos dissemelhanças importantes, ainda que nos sintamos mais à larga no Kamiq.
Onde não há dúvidas sobre a supremacia do Kamiq é na volumetria da bagageira, cujos 400 litros conferem-lhe vantagem importante, uma vez que a mala do Stonic se fica pelos 352 litros. Com o rebatimento dos encostos dos bancos traseiros, o espaço na bagageira do Skoda sobe para 1395 litros, enquanto a do Kia não vai além de 1155 litros. Contudo, procedendo ao rebatimento dos bancos, o Stonic oferece piso praticamente plano, enquanto o Kamiq deixa um degrau, que faz a diferença em termos de aproveitamento do espaço. Mais: o Stonic conta com plataforma que se pode ajustar em dois níveis, solução que é opcional no seu concorrente. Ainda sobre arrumação, refira-se que (ambos) os habitáculos contam com diversos compartimentos para arrumação extra, mais numerosos e práticos no Kamiq. O Skoda tem, por exemplo, porta-luvas e bolsas das portas maiores: no total, os espaços de arrumação no habitáculo do modelo checo totalizam 26 litros.

Ainda sobre os interiores, começando pelo Skoda, há a realçar a boa qualidade geral dos materiais (alguns plásticos mais baratos destoam, mas não sejamos picuinhas, é o normal, até acontece em modelos ditos premium...), bem como a solidez da construção, o que resulta numa aparência robusta que transmite a confiança de que o material não se vai degradar facilmente e que os ruídos parasitas não vão surgir prematuramente. A unidade que conduzimos tinha acabamento Style, o mais elevado, que inclui, de série, o Virtual Cockpit, solução que acrescenta ao Kamiq um ambiente tecnológico pouco visto neste segmento e onde podemos visualizar dados relevantes sobre o automóvel e condução, nomeadamente as estações de rádio, sistemas de assistência ativos e informação de navegação. No Stonic, a instrumentação é analógica, existindo pequeno visor ao centro para visualizar informações relativas à viagem e à prática da condução.
Depois, o Kia também na qualidade de construção se distancia, pela negativa, do rival, apresentando-se exclusivamente com plásticos duros. Em compensação, a montagem é sólida e nota-se o cuidado nos acabamentos, o que por certo evitará ruídos parasitas prematuros. Mas o que não evita é uma insonorização que não merece grandes elogios, acrescentando-se a isso alguns ruídos aerodinâmicos mais pronunciados.
De tal não sofre o Kamiq, que oferece aos ocupantes um habitáculo sossegado e propício a apreciar o enorme ecrã tátil a cores de 9,25’’ de visualização e gestão do sistema de infoentretenimento. O grafismo do dispositivo é simples e os comandos são fáceis de utilizar, ainda que por vezes o sistema pareça algo lento a responder... O Stonic conta com ecrã central de 7’’ com grafismo algo antiquado e menor resolução, mas no geral o sistema de infoentretenimento funciona bem e é muito fácil de usar, com respostas rápidas aos comandos, menus bastante claros e, no geral, ícones de tamanho decente. Os botões físicos ao lado do ecrã também facilitam a troca entre menus enquanto conduzimos. Vantagem sobre o Kamiq...
O Kamiq que testámos estava equipado com motor de 3 cilindros e 1 litro, com 116 cv, acoplado a caixa automática DSG de 7 velocidades, que nos merece elogios pela disponibilidade e suavidade. O 1.0 TSI não se destaca tanto nas prestações, mas no refinamento e baixa sonoridade, superando nas acelerações o bloco de 3 cilindros igualmente de injeção direta e sobrealimentado da Kia, com 120 cv e também acoplado a caixa automática de 7 relações. Ainda que por pouco. Nas retomas, empate técnico. Idêntica avaliação aos consumos, uma vez que a diferença é mínima: 6,9 l/100 médios para o Kia contra 7 l/100 km no Skoda.

Para finalizar, a condução: o pisar do Stonic é mais seco, o que prejudica o conforto nos pisos mais pobres; em contrapartida, garante-lhe maior agilidade, ainda que isso não queira dizer que seja o mais eficaz... O Kamiq não é uma propriamente uma almofada, mas é mais confortável, além de ter maior agilidade, como tem níveis de aderência superiores, o que o torna mais agradável de conduzir, até porque a direção também é mais progressiva e comunicativa.

O Skoda Kamiq vence o seu confronto de estreia sem apertos, sendo de destacar as vitórias em quatro dos cinco blocos de pontuação, perdendo apenas, e de forma natural, o da economia, pois o Kia, além de mais barato, tem garantia mecânica simplesmemte imbatível. De resto, o Kamiq revelou-se um automóvel muito completo e com argumentos para ser um concorrente de peso neste tão competitivo segmento. Destaque, ainda, para os generosos recheios de equipamento destas versões Tech (Kia) e Style (Kamiq), tanto no conforto, como na segurança.