A mais recente geração do AMG A 45 tem a árdua tarefa de fazer esquecer a avassaladora performance e eficácia dos 381 cv da anterior geração. Mas sim, dizemos já que o consegue fazer de modos perfeitamente inesperados, numa guerra aberta à Física de Newton, não só com ainda mais estonteantes 421 cv concentrados num Classe A, mas também pela forma como estes são domados e aproveitados por todo o conjunto, encimado pela atuação do sistema de tração integral 4Matic+, uma aposta da AMG para os seus mais recentes modelos.
Vasto recurso tecnológico que a Mercedes sabia ser necessário para combater os genes que a BMW coloca na sua mais pura criação da família M. O M2 Competition faz uso de tudo o que está na base histórica da marca de Munique, nomeadamente a tração traseira e a arquitetura mecânica de 6 cilindros em linha, aqui aprimorada com os dotes da sobrealimentação, numa herança direta dos M3/M4. Ao todo, a BMW entrega 411 cv e 550 Nm (logo a partir das 2350 rpm, mantendo-os até às 5200 rpm) para o eixo traseiro digerir, num exercício que poderia ter tudo para ser perigosamente descontrolado. Mas não...
É certo que o M2 Competition recorre ainda à plataforma e base da anterior geração do Série 1 (daí a tração traseira, que irá deixar saudades nestas versões mais picantes...), não tendo os proveitos técnicos que a Mercedes já inclui na mais recente geração do compacto Classe A. Mas também é certo que a BMW tem neste M2 um dos últimos dos puros (que se adivinha raro e valioso no mercado de usados...), com aposta total na conjugação da eficácia do chassis com a força bruta do motor, tudo devidamente dominado por uma motricidade tátil e perfeitamente controlável no usufruto da potência.
O AMG A 45 S tem também os seus apelos mediáticos. Desde logo, o facto de o 4 cilindros turbo ser o mais potente 2 litros de produção em série, com os já referidos 421 cv. A aposta da marca vai para a forma de domínio dos mesmos, mas sem esquecer uma necessária vertente lúdica mais apurada através da função Drift Mode permitida pelo sistema de tração integral 4Matic+. Ao contrário do que acontece, por exemplo, nos pesos pesados AMG E 63 e AMG GT 53/63, o A 45 S não se transforma em tração traseira (esta plataforma não o permite), mas o sistema de tração passa a enviar muito mais potência para o eixo posterior, com exaustivo trabalho por parte das duas embraiagens multidisco, uma por roda. Ou seja, ao volante do A 45 não se consegue, por exemplo, arrancar um imediato power slide à saída de cruzamentos, mas sim ganhar vivacidade extra e alguma soltura da traseira em circuitos fechados ou rotundas. Atributo que permite enorme aumento das credenciais lúdicas do A 45, mas sem nunca tirar o foco na eficácia e precisão direcional.
O AMG inclui diversos modos de condução que podem ser selecionados no comando rotativo no braço direito do volante, sendo que no braço esquerdo acrescenta-se a possibilidade imediata de outros ajustes dinâmicos, caso do escape desportivo, modo do ESP, alternar entre caixa automática ou modo sequencial e ainda nível de amortecimento da opcional suspensão variável (1250 €). Tudo depois refletido com grafismos de alta qualidade e resolução, quer no painel de instrumentos, quer no visor central tátil.
À boa (e distinta) maneira da M, o M2 Competition oferece ajustes individuais do calibre da direção, resposta do motor ao acelerador, velocidade das trocas da caixa automática e ação do controlo de estabilidade. Tudo em três níveis. Apenas a suspensão não admite sequer recurso a amortecimento variável, pelo que para conseguir a extrema eficácia e comunicação sobre o trabalho das rodas, o conforto quotidiano sai afetado face ao A 45. O M2 permite ao condutor criar duas combinações de ajustes ideais para que possam ser chamadas à ação de forma imediata através das teclas M1 e M2 no volante – o A 45 acrescenta o Modo Individual, igualmente configurável, a todos os outros: Piso Escorregadio, Comfort, Sport, Sport+ e Race.
Mas centremos atenção nas mecânicas. O bloco 4 cilindros turbo da Mercedes, não obstante gostar de trabalhar em rotações um pouco mais elevadas – ver regimes de entrega de binário – como que devora rotações de forma estonteante logo desde cedo. Na ajuda está a caixa automática de dupla embraiagem, cujo escalonamento das 8 relações (com reduzida quebra de regime nas duas primeiras passagens de caixa) permite não só o apuro da mecânica a cada momento, como as trocas são fulminantes e rápidas, acompanhadas pela contagiante nota do escape desportivo, se acionado pelo condutor. Ao condutor chega, apenas, a sensação de estonteante ganho de velocidade, com arranques tipo catapulta, fruto da tração integral aproveitar cada cavalinho de potência. Daí que, até aos 160 km/h, o A 45 S se bata de igual para igual, por exemplo, com o AMG C 63 S, pelo que não tem dificuldades em suplantar o arranque (mesmo que controlado pelo launch control) do M2 de tração traseira. Depois, as passagens de caixa do BMW e a pujança do motor maior (não obstante menos potente) permitem ao M2 Competition recuperar terreno perdido, apanhando o Classe A no final do quilómetro de arranque.
O excelente desempenho do motor/caixa do BMW está também rubricado nas retomas de velocidade, não deixando fugir o A 45! Mas as reações ao acelerador são distintas nos dois modelos, com o 6 cilindros turbo sempre mais homogéneo na resposta, sempre mais pronto desde cedo, e bem acompanhado pela distribuição da força pelas rodas traseiras, com sentido tátil quase ao nível da competição e uma direção que permite rodar em reta... de lado! Não obstante a quase imensurável eficácia do conjunto da AMG, em que dificilmente o M2 Competition conseguiria igualar um tempo por volta, em circuito, o certo é que a experiência sensorial do BMW é única neste momento da indústria automóvel. O mesmo se passa na calibragem do sistema de travagem (embora tenhamos testado unidade com o opcional travões desportivos, excelentes em matéria de controlo de fadiga), embora o Classe A rubrique distâncias de imobilização mais curtas com o sistema específico da versão S. Uma última nota para a posição de condução, melhor no Classe A, não só fruto da mais correta ergonomia do posto, mas também à custa dos fenomenais bancos Performance (que custam 4150 €...), arraçados de baquets, e que incluem (totais!) ajustes elétricos.
O M2 Competition não tem os elementos tecnológicos mais atuais nem o brilhantismo da digitalização que a Mercedes tão bem soube encaixar no Classe A. Mas enquanto versão especial, pura, performante e 100% focada no prazer de condução, sem deixar de lado a facilidade de usufruto dos 411 cv apenas e só com tração traseira, faz deste automóvel uma máquina muito especial, recompensadora de todo o investimento, sem esquecer as linhas de verdadeiro coupé: ou seja, espécie em vias de extinção. O certo é que o novo AMG A 45 S surpreende pelas formas encontradas para se tirar partido dos 421 cv, que não são apenas força bruta, mas sim uma catapulta mecânica para uma condução afincada, super eficaz e capaz de bater- se com rivais de superior calibre.